Durante a epidemia de síndrome respiratória aguda de 2003, os serviços de internet e smartphones não eram amplamente disponíveis como hoje. Assim, os serviços online foram escassos nessa epidemia prévia.
A popularização da internet e dos smartphones permitem que profissionais de saúde e de outras áreas, assim como as autoridades de saúde, prestem serviços a distância durante a pandemia do COVID-19.
A transmissão rápida do vírus entre as pessoas dificulta intervenções presenciais, sendo mais seguro a prestação de serviços online. Até o momento, vários tipos de serviços de saúde mental online têm sido amplamente implementados no mundo todo.
Qualquer surto epidêmico terá efeitos negativos sobre os indivíduos e a sociedade. Lições aprendidas com eventos terroristas no Pentágono e ataques de antraz nos EUA mostraram a importância de pré-estabelecer coalizões comunitárias para mobilizar recursos de forma eficiente e eficaz e responder com sucesso às necessidades de saúde mental relacionadas a desastres dos indivíduos afetados.
Minha experiência na pandemia do COVID19
Na minha prática como médica psiquiatra, durante esta pandemia, tenho atendido pacientes por telemedicina utilizando chamadas de video e oferecendo contato por mensagem ou redes sociais, sempre que necessário.
Tem sido uma experiência positiva para mim, pois tenho a chance de chegar até pessoas que estão no grupo de risco do COVID19 ou que tem medo intenso de sair de casa. Além disso, manter meu trabalho também é algo que promove a minha saúde mental e me ajuda a me manter bem, fazendo o que amo e mantendo contato com os pacientes
Saúde mental é essencial na pandemia
Segundo a Organização Mundial da Saúde…
A OMS define o conceito de SAÚDE MENTAL como um estado de BEM-ESTAR
Nesse estado, o indivíduo consegue utilizar suas habilidades. É produtivo. Maneja bem o estresse do dia a dia. Consegue contribuir para a sua comunidade. A saúde mental envolve as dimensões física, psicológica, social e espiritual. Elas interagem entre si e nos permitem desenvolver diversas formas de lidar com os problemas.
Esses recursos de enfrentamento são essenciais a todos os seres humanos, mas nesse momento atual de pandemia torna-se quase que obrigatório, principalmente para os trabalhadores da área de saúde
Aprender a identificar e lidar com nossos sentimentos e emoções é imprescindível
A pandemia trás muitos tipos de medo e insegurança à tona – medo de adoecer, medo da morte, medo de perda de pessoas, medo de ser separado de cuidadores,
medo de ser estigmatizado, medo de ser excluído, medo de transmitir o vírus, medo de perder os meios de subsistência, medo de não ter acesso as
necessidades básicas, etc.
Sentimentos de impotência e vulnerabilidade relacionados ao avanço do vírus. Angústia devido a inexistência de cura até o momento e devido a instabilidade das decisões governamentais. Sensação de estar preso com a maior limitação de autonomia e distanciamento social de familiares e amigos. Constante estado de vigilância e alerta, sensação de que as informações são insuficientes e
de que a situação está fora de controle.
A tristeza surge relacionada ao isolamento social, às perdas e ao sentimento de desamparo. Podem ocorrer alterações do apetite e do sono, piora dos conflitos interpessoais dentro de casa e aumento dos episódios de agressividade contra o outro e contra si mesmo. Maior risco de surgirem comportamentos compulsivos desencadeados por pensamentos obsessivos, principalmente em relação a limpeza dos espaços e higiene pessoal
Essas emoções e sentimentos podem provocar diversos tipos de reações nos seres humanos, tanto imediatas como tardias, entre elas:
Reações imediatas a pandemia:
- Letargia, estagnação e apatia
- Inquietação, agitação e agressividade
- Crises de pânico e desespero
- Episódios depressivos e ideias de auto-extermínio
- Piora de transtornos de ansiedade (Ansiedade Generalizada, TOC, Fobias, …)
- Estresse agudo
- Desregulação emocional
Efeitos Tardios da Pandemia:
- Luto patológico
- Transtornos de Ajustamento
- Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT)
- Abuso do álcool e outras drogas lícitas e ilícitas
- Transtornos de Humor
12 Sugestões de Estratégias de Enfrentamento na Pandemia do COVID19
- Autocuidado – Mantenha uma alimentação saudável e beba pelo menos 2 litros de água por dia. Respeite os horários das refeições e de dormir/ acordar. Se estiver trabalhando, seja em casa ou no seu ambiente de trabalho regular, faça intervalos de descanso.
- Evite hábitos prejudiciais – Cuidado com o uso abusivo de tabaco, bebidas alcoólicas e outras drogas como forma de fugir da angústia.
- Converse com os amigos e familiares – É fortalecedor trocar experiências e compartilhar vivências.
- Não se isole completamente – Mantenha contato com sua rede de apoio, mesmo que à distância por meios virtuais.
- Compartilhe o cuidado – Motive os outros a praticarem ações de cuidado pessoal e coletivo. Isso alivia a sensação de sobrecarga e estimula o vínculo social. Participe de aulas online de atividade física/ dança ou conteúdos do seu interresse e promova reuniões online de família e amigos
- Pratique a Resiliência – Reflita sobre as dificuldades e pense no que pode aprender com elas, ressignifique sua experiência!
- Retome estratégias de enfrentamento já utilizadas em crises anteriores – Recorra às habilidades que você usou no passado e que o ajudaram a superar as adversidades da vida. Procure aprender com o que está vivendo, descubra qual o melhor jeito de passar por tudo isso e lembre-se que não durará para sempre.
- Cuide de seu corpo – A atividade física e alongamentos são importantes para reduzir o estresse e a ansiedade, além de melhorar a capacidade cognitiva e rendimento laboral/ acadêmico. É possível manter atividades que você já praticava, adaptando-se ao ambiente da sua casa ou iniciar atividades online (ex. aulas de musculação, funcional, alongamento, luta, dança, etc).
- Evite excesso de informações – Filtre conteúdos e imponha limites quanto a sua exposição a informações que alterem seu estado de humor. Tente se informar apenas de uma a duas vezes, de preferência, não faça isso após acordar ou antes de dormir.
- Realize atividades que tragam tranquilidade – Realize atividades que te acalmem, escute músicas que goste, faça um curso online, leia livros ou assista séries e filmes. Faça coisas que te trazem prazer e alegria!
- Estabeleça uma rotina – Crie uma rotina de trabalho/ estudo e autocuidado. Mantenha horários fixos para dormir/ acordar e horários para as refeições principais (café da manhã, almoço e janta). Ter controle e saber o que vai acontecer no seu dia vai te trazer paz e segurança em meio a imprevisibilidade da pandemia.
- Mantenha sua fé – As práticas espirituais são importante para saúde mental, mas nesse atualmente elas precisam ser mantidas longe de aglomerados e espaços fechados. Cuidar do próximo é também cuidar de si mesmo e do bem estar coletivo.
Sugestão Extra!!!
Pratique Meditação – treino da mente para focar no presente e alimentar pensamentos positivos
- Encontre um local tranquilo e confortável, sente-se ou deite-se com as mãos sobre a barriga;
- Inspire pelo nariz, enchendo os pulmões de ar e conte mentalmente até 4
- Segure o ar nos pulmões, contando até 2
- Expire devagar pela boca, contando até 6, esvaziando totalmente os pulmões e a barriga.
- Faça esse exercício durante 5 minutos, pelo menos 3x por semana, ao acordar ou antes de dormir e sempre que sentir necessidade de se acalmar ou trazer a mente para o momento presente
Meditar é preciso
Peça ajuda! LIGUE!
- Disque Saúde – 136
- Centro de Valorização da Vida – 188
- Centro de Atendimento à Mulher – 180
Referências bibliográficas:
- SUPORTE EM SAÚDE MENTAL EM TEMPOS DE COVID-1. Guia de cuidados aos profissionais da saúde. Universidade Federal de Sergipe/ EBSERHhttp://www2.ebserh.gov.br/documents/16756/5119444/A+cartilha+sau%CC%81de+mental+covid-19+ok.pdf/b277aed9-f881-45cd-b289-4457f33a0d85
- Liu et al. Online mental health services in China during the COVID-19 outbreak. Published:February 18, 2020. DOI:https://doi.org/10.1016/S2215-0366(20)30077-8
- Duan, L., Zhu G.. Psychological interventions for people affected by the COVID-19 epidemic. Published:February 18, 2020. DOI:https://doi.org/10.1016/S2215-0366(20)30073-0